quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O CONCEITO DE PRAZER EM EPICURO



Por Marta Caregnato
“Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiadamente jovem ou demasiadamente velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de filosofar ainda não chegou, ou que já passou, é como se dissesse que ainda não chegou, ou que já passou a hora de ser feliz”. Epicuro, CM, p.21 
“Todas as manhãs a amizade dá volta à terra para despertar os homens e para que eles possam felicitar-se reciprocamente”[1].

O CONCEITO DE PRAZER EM EPICURO[2] E SUA RELAÇÃO COM A PHRÓNESIS

Esse artigo tem como propósito apresentar a ética epicurista a partir da leitura da Carta sobre a felicidade: à Meneceu, de Epicuro.
A ética epicurista é fundamentada no prazer (hedoné). Nesse sentido, a felicidade (eudaiminia) só é alcançada quando se vive uma vida prazerosa. Daí surge uma questão: como é possível uma ética fundamentada no prazer? Isso não levaria o ser humano agir de acordo com interesses individuais? Diante disto como ficaria o outro no âmbito do agir humano?
O epicurismo foi mal interpretado por pessoas que não compreendiam o que ele entendia por prazer. Daí a relevância – a partir do conceito de prazer, tal como foi pensado por Epicuro – de apresentar algumas idéias básicas, que se encontram interligadas e que são fundamentais para a compreensão da ética epicurista: o tetrapharmakon, a hierarquia dos desejos e a autarquéia. A partir destas idéias mostrar como a phrónesis está relacionada ao prazer.
O pensamento proposto pelo filósofo é inovador, entretanto, isto se deve ao vazio espiritual vivido em sua época. Que foi conseqüência do declínio da pólis[3] (Cidade – Estado). Na Atenas do século IV e V todo cidadão era senhor de si, era ele quem formulava a lei, na Assembléia do povo cada um tinha o direito de tomar a palavra aceitando-a ou rejeitando-a. A partir do declínio da pólis – em que esta deixa de ter autonomia, perdendo a sua independência – a lei passa ser decisão do príncipe ou governador. Dissolvendo assim a antiga identidade entre homem e cidadão. Assim, o ideal político perde seu valor.
A juventude de Epicuro coincidiu com essa época, desse modo, o filósofo propõe o recuo da praça pública (ágora) para o Jardim, um refúgio para o espírito.

QUE É METAFÍSICA? - HEIDEGGER

 Versão eletrônica do livro “Que é Metafísica?”
Tradução: Ernildo Stein
Créditos da digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia)
Homepage do grupo: http://br.egroups.com/group/acropolis/


"Que é metafísica?” — A pergunta nos dá esperanças de que falará sobre a metafísica. Não o faremos. Em vez disso, discutiremos uma determinada questão metafísica. Parece-nos que, desta maneira, nos situaremos imediatamente dentro da metafísica. Somente assim lhe damos a melhor possibilidade de se apresentar a nós em si mesma.
Nossa tarefa inicia-se com o desenvolvimento de uma interrogação metafísica, procura, logo a seguir, a elaboração da questão, para encerrar-se com sua resposta.
O DESENVOLVIMENTO DE UMA INTERROGAÇÃO METAFÍSICA
Considerada sob o ponto de vista do são entendimento humano, é a filosofia, nas palavras de Hegel, o “mundo às avessas’. É por isso que a peculiaridade do que empreendemos requer uma caracterização prévia. Esta surge de uma dupla característica da pergunta metafísica.
De um lado, toda questão metafísica abarca sempre a totalidade da problemática metafísica. Ela é a própria totalidade. De outro, toda questão metafísica somente pode ser formulada de tal modo que aquele que interroga, enquanto tal, esteja implicado na questão, isto é, seja problematizado. Daí tomamos a indicação seguinte: a interrogação metafísica deve desenvolver-se na totalidade e na situação fundamental da existência que interroga. Nossa existência — na comunidade de pesquisadores, professores e estudantes — é determinada pela ciência.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Declaração de Paris para a Filosofia

 "Nós, participantes das jornadas internacionais de estudo "Filosofia e democracia no mundo", organizadas pela UNESCO, que ocorreram em Paris, nos dias 15 e 16 de fevereiro de 1995,

"Constatamos que os problemas de que trata a filosofia são os da vida e da existência dos homens considerados universalmente,
"Estimamos que a reflexão filosófica pode e deve contribuir para a compreensão e conduta dos afazeres humanos,
"Consideramos que a atividade filosófica, que não subtrai nenhuma idéia à livre discussão, que se esforça em precisar as definições exatas das noções utilizadas, em verificar a validade dos raciocínios, em examinar com atenção os argumentos dos outros, permite a cada um aprender a pensar por si mesmo,
"Sublinhamos que o ensino de filosofia favorece a abertura do espírito, a responsabilidade cívica, a compreensão e a tolerância entre os indivíduos e entre os grupos,
"Reafirmamos que a educação filosófica, formando espíritos livres e reflexivos - capazes de resistir às diversas formas de propaganda, de fanatismo, de exclusão e de intolerância - contribui para a paz e prepara cada um a assumir suas responsabilidades face às grandes interrogações contemporâneas, notadamente no domínio da ética,
"Julgamos que o desenvolvimento da reflexão filosófica, no ensino e na vida cultural, contribui de maneira importante para a formação de cidadãos, no exercício de sua capacidade de julgamento, elemento fundamental de toda democracia.
"É por isso que, engajando-nos em fazer tudo o que esteja em nosso poder - nas nossas instituições e em nossos respectivos países - para realizar tais objetivos, declaramos que:
"Uma atividade filosófica livre deve ser garantida por toda parte - sob todas as formas e em todos os lugares onde ela possa se exercer - a todos os indivíduos;
"O ensino de filosofia deve ser preservado ou estendido onde já existe, criado onde ainda não exista, e denominado explicitamente 'filosofia';
"O ensino de filosofia deve ser assegurado por professores competentes, especialmente formados para esse fim, e não pode estar subordinado a nenhum imperativo econômico, técnico, religioso, político ou ideológico;
"Permanecendo totalmente autônomo, o ensino de filosofia deve ser, em toda parte onde isto é possível, efetivamente associado - e não simplesmente justaposto - às formações universitárias ou profissionais, em todos os domínios;
"A difusão de livros acessíveis a um largo público, tanto por sua linguagem quanto por seu preço de venda, a geração de emissões de rádio ou de televisão, de audiocassetes ou videocassetes, a utilização pedagógica de todos os meios audiovisuais e informáticos, a criação de múltiplos espaços de debates livres, e todas as iniciativas susceptíveis de fazer aceder um maior número a uma primeira compreensão das questões e dos métodos filosóficos devem ser encorajadas, a fim de constituir uma educação filosófica de adultos;
"O conhecimento das reflexões filosóficas das diferentes culturas, a comparação de seus aportes respectivos e a análise daquilo que os aproxima e daquilo que os opõe, devem ser perseguidos e sustentados pelas instituições de pesquisa e de ensino;
"A atividade filosófica, como prática livre da reflexão, não pode considerar alguma verdade como definitivamente alcançada, e incita a respeitar as convicções de cada um; mas ela não deve, em nenhum caso, sob pena de negar-se a si mesma, aceitar doutrinas que neguem a liberdade de outrem, injuriando a dignidade humana e engendrando a barbárie.
"Esta declaração foi subscrita por:
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